No caso de Laëtitia, cujo nome em si a transformaria em alguém diferente de todas as outras, a lógica da convergência provou-se totalmente válida, comprovada pela pura sequência de fatos, nada mais. Como se pode explicar pela lógica da caça, que , com nada combinado, duas pessoas que se viram apenas através de um vídeo decidissem ir ao mesmo local, na mesma hora, estarem tão próximos que apenas a visualização daquela esplêndida mulher fosse quase uma alucinação, uma miragem no meio da cidade, de uma tarde de sábado?
Mal havia chegado àquela cidade, a que realmente considerava como lar, deixei as coisas de lado e decidi ir tomar um café próximo à livraria que eu amo ir todas as vezes que estou aqui, em uma região da cidade que simplesmente amo, a Avenida Paulista. Depois do café, entrei na livraria para procurar livros de fotografia e arte. Foi a percorrer aqueles corredores que vi AQUELES olhos. Não precisei ver o corpo voluptoso de seios grandes e belos, seu corpo que sempre desejei mas , sim e sobretudo, aqueles OLHOS.
Confesso que temi me equivocar mas como poderia? Como se podem confundir, a quem sabe observar, um olhar, um formato de olho, a cor que distingue cada um deles? Só sei que me aproximei com discrição e cuidado e perguntei:
– Você é Laëtitia,não?
Confesso que não me surpreendeu a sua expressão de espanto. Afinal, como ela poderia imaginar que aquele com quem havia conversado apenas por uma chamada de Whatsapp poderia se personificar em sua frente , de repente? Senti que ela demorou para aceitar a abordagem, para responder à questão.
– Sim… Você me conhece?
– Até esse exato momento, apenas por videoconferência. Prazer, sou JB.
Nesse momento o mesmo espanto que eu sempre tive tornou-se dela também. Depois de passado algum tempo a convidei para um café e passamos muitos momentos repassando muitas coisas que tínhamos conversado e as horas, sim as horas, passaram com grande rapidez.
– Você tem alguma coisa planejada para fazer?
– Não… Apenas voltar para casa.
– Poderíamos continuar nossa conversa na minha, o que acha?
– Não sabia que você tinha uma casa aqui …
– Decidi ter porque quero voltar a morar aqui em algum momento e também porque sempre venho e não quero ficar pagando hotel todo o tempo…
Seguimos conversando enquanto dirigíamos ao estacionamento, o caminho, a chegada, ao abrir a porta,ao apresentar os cômodos, até chegarmos ao quarto que eu havia transformado em escritório e biblioteca, cheios de livros divididos por asssuntos que variavam de temas como guerra à psicologia, de PTSD a BDSM,siglas em que os olhos daquela mulher se fixavam alternadamente e eu os acompanhava com os meus.
– Você tem muitos interesses, JB….
– Você também pelo que percebi. Algum em especial?
– Sim, esse! – disse apontando para a prateleira onde estavam meus livros sobre BDSM, literatura erótica, Sade, Masoch e tantos outros.
– Você já viveu isso?
– Um pouco, muito pouco…. Você sabe que eu adoro sexo sujo, intenso, violento… Já te contei isso…
– Sim, eu sei. E há algo nisso que me atrai em você. Talvez você nem saiba disso….
– Você que acha que não… Eu sei, além de você ter me dito, eu apenas sinto….
Não me entendam mal, por mais que as coisas sejam conhecidas, melhor é sempre supormos que não tenhamos tanta certeza, mas sim, dúvidas. As dúvidas constroem, as certezas estacam.
– Se você gosta de tudo isso eu tenho um outro cômodo para te mostrar.
Decidi mostrar a minha masmorra a Laëtitia, sem esperar que com isso se animasse a fazer qualquer coisa diferente ou coincidente com minha vontade.
Há coisas, nessa masmorra, que fiz eu mesmo: o pelourinho, o “X”, os suportes para minha coleção de chicotes, vendas, algemas…
Ter visto o olhar dela ao entrar na sala foi simplesmente além de qualquer descrição, um misto de surpresa, de vontade, de intimidação.
– Nossa, JB! Quantas coisas? Você usa tudo isso?
Ri.
– Algumas coisas sim, algumas coisas não…. Atualmente não tenho ninguém que me sirva…
– Que pena… – ela engoliu um pouco à seco antes de continuar a falar – Você sente falta?
– Talvez, apenas quando vale a pena. Tem horas que nem vale a pena gastar tempo, esforço e sensibilidade.
Continuamos nossa “viagem” pelo ambiente e Laëtitia parecia uma criança em uma loja de doces e eu, com alguma ousadia, perguntei se ela não gostaria de experimentar o que é estar indefensa nas mãos de alguém, sentir em seu corpo a ação de um prazer que mesmo voltado à um, poderia ser mútuo. No entanto, não esperava uma resposta positiva e me surpreendi quando ela aceitou.
– Apenas cuide de mim! – disse.
Era o mínimo que eu poderia fazer em troca daquele momento de êxtase que queria mútuo e foi no momento que declarei minha “concordância” com seu pedido que senti aquele corpo que despertava meu desejo a tempos, relaxar-se em minhas mãos.
– Dispa-se e fique em pé no meio da sala. Volto já.
Retirei-me no cômodo ao lado e lhe dei a liberdade de superar um eventual pudor de despir-se frente a alguém que não conhecia mais além de algumas conversas. Também serviu para que ela sentisse a solidão que duraria alguns minutos.
Ao voltar, o fiz com uma venda negra nas mãos e aproximando-me por trás, cobri seus olhos para a surpresa dela.
– Agora vai aprender que o que realmente interessa são as sensações. Está vendo algo?
– Não, JB…
Minhas mãos foram ao encontro de suas nádegas em uma advertência mais do que um castigo.
– Já que você quis experimentar tudo isso, lembre-se: chame-me de Senhor, Mestre ou o que queria, não pelo meu nome. Você só é digna de dizer da sua total submissão, nada mais.
– Sim, Senhor..
– Muito bem, menina. Está vendo algo?
– Não, Senhor.
– Abra as pernas.
Comecei pelo antigo ritual da inspeção, mãos que deslizam pelo corpo como se fosse essa formidável mulher uma propriedade.
– Agora você é minha posse Laëtitia… A única coisa que você tem direito é indicar-me que está demais, a palavra de segurança, Lorde.
– Sim, Senhor.
– Te advirto que está obrigada à usà-la para sua própria segurança.
– Sim, Senhor…
Em outro momento , aquele corpo que me encantava tanto, nu á minha frente, apenas despertaria o desejo de foder, de fazer com que meu membro rígido encontrasse as umidades que eu imaginava poder fazer aparecer naquela fêmea.
Hoje, no entanto, o desejo era de possuir de fato, não apenas “comer” ainda mais porque não há termo mais inapropriado para designar as relações entre um homem e uma mulher mas, sobretudo, pq o objetivo é tomar algo mais que não só o corpo.
– Sinta o ambiente onde você está Laëtitia, descole-se de tudo, apenas deixe que as sensações fluam.
Os dedos dele percorreram seu rosto, seus lábios, envolveu o possível dos seios, deslizou pela barriga, apertou as nádegas e deslizou, sem nenhuma advertência para aquela xoxota que, não para sua surpresa, estava molhada. A pergunta de quem realmente mandava ali, passou-lhe pela cabeça. Como poderia, na sua presunção em ser alguém , sentir-se dessa forma excitada? Qual é a sensação que deveria ser sentida senão aquelas permitidas, afinal, a posse era total.Mergulhou o dedo indicador e penetrou-a movimentou os dedos até que se enchessem daquele mel que muitas vezes transborda pelo sexo de uma mulher.Levou o dedo à boca dela e mandou com que chupasse.
– O que significa isso?
– Estou excitada com isso, Senhor.
Um tapa , imprevisto pela venda, cortou o ar indo de encontro à cara daquela mulher entregue como uma advertência de algumas permissões e limitações , mesmo no exercício quase involuntário de um momento de prazer.
Não pode deixar de notar uma mudança , ainda que discreta no ritmo respiratório daquela mulher e estreitou os olhos quase em um perverso sentimento de superioridade e de poder.
Pegou as clamps para tortura dos seios e, sem nada dizer, cuspiu sobre aqueles fabulosos seios e massageou-os para que os bicos ainda ficassem mais eretos. À medida que isso acontecia, puxou-os e , fixou aquele clamp no mamilo esquerdo, prendendo-o suficiente para que ela emitisse um gemido e brevemente movesse o corpo.
– Sem um suspiro, sem um movimento, puta!
Sem esperar a resposta, prendeu o outro mamilo, ligeiramente atrapalhado pelo piercing que ali havia. Ela, de sua parte, esforçou-se notavelmente em não emitir um som mas foi incapaz de fazê-lo.
– Você acha sinceramente que isso é exercício de poder? Pobre mulher. Um sádico sem um pingo de erotismo pode achar que torturar a carne seja um indício de poder. Poder, para mim, é isso…
Mais uma vez penetrou aquela fêmea excepcional com os dedos e, mais uma vez, eles saíram úmidos. Ela nem queria conter os gemidos que trazia guardados em si e agitou-se com aqueles dois dedos a penetrá-la e a fodê-la.
Sem o menor aviso, retirou os dedos de lá, de uma única vez e contemplou-os: como imaginar que Laëtitia estaria tão entregue e tão disposta a submeter-se em um diverso ritual de introdução á esse mundo que o fascinava.
– Sugue! Limpe meus dedos.
Ela discretamente começou a chupar sendo incentivada a colocar todo o dedo na boca explorando seus próprio cheiros de gosto.
– Qual é seu gosto , minha menina?
– Doce, Senhor.
Ele nada disse. Apenas a guiou rumo ao famoso X. Atou suas mãos, ainda de venda, a colocou de costas para si.
– Poder, minha cara menina, não é apenas provocar dor , é fazer com que você extraia prazer disso. Agora aquiete sua mente, apenas sinta o que irei te fazer.
Começou a deslizar o chicote de equitação pelo corpo daquela fêmea. Sempre admirara as formas de Laëtitia, o fato de ser uma mulher que jamais seria ignorada por qualquer critério que pudessem avalia-la, por curvas, formas e também por inteligência.
A lingueta do chicote começou por sua nuca, desceu por sua coluna, com total lentidão e passou sobre as nádegas dela.
– Abra as pernas.
Ela nem respondeu, apenas fez como mandado e o chicote foi repousar entre suas pernas para depois descer até chegar na panturrilha. Voltou e foi acariciar o sexo, atritando ali sutilmente, buscando o clitóris para também estimula-lo. Ela gemeu e isso foi a senha para que começassem os seguidois golpes em suas nádegas, primeiro uma, primeiro a outra.
Os golpes que se sucederam foram de intensidade variável, alguns calibrados para provocar dor, outros apenas sensações. Era difícil distinguir os suspiros de dor e os de prazer, tudo estava entrelaçado e compondo uma única figura essencialmente submissa.
Parou e tirou a venda e Laëtitia pode, finalmente, contemplá-lo sobre outra luz, aquela que, de alguma forma, esperava, de alguém , não necessariamente ele mas feliz estava que tivesse sido aquele homem que a mostrava um pouco desse novo mundo que a acolhia em seu papel.
Com os braços e pernas atados naquela cruz, estava entregue, sem que pudesse reagir e esse contexto espandou-se com a vela que tinha sido acessa, uma branca e uma azul, a cor favorita D´Ele.
Ela viu a cera formar uma poça abaixo do pavio e o desconhecido a fez temer pela próxima ação que veio quando elevando a vela ao alto, ele deixou que essa cera caísse sobre o corpo dela. Mesmo não chegando tão quente aquele calor e e a cera que o portava fizeram com que ela gritasse, mesmo sabendo que não havia ninguém para ajuda-la. Queria ser ajudada?
A cascata de cera azul e branca cobriu seus seios, correu um pouco sobre seu corpo e só não chegou ao sexo porque jamais fora a intenção dele de ali chegar.
– Está tudo bem , Laëtitia?
– Sim, meu Senhor.
Ele sentou-se em uma cadeira próxima e observou aquela figura nua à sua frente que o olhava com flamejantes olhos castanhos, suja de cera e vermelha e roxa dos golpes do chicote.
– Laëtitia te pergunto: quer viver essa vida, assim?
Ela recuperou-se dos suspiros e da respiração ofegante que a assediavam e , em um olhar de êxtase, disse, quase sussurrando.
– Sim, Senhor! Por favor, me faça sentir essa dor misturada com prazer que tanto quero.
Ele riu, levemente. Não seria ela quem teria o direito de escolher o que sucederia, essa ecolha pertenceria á ele e isso fazia parte do contrato não dito.
– Você terá a continuação depois. Agora vou soltá-la e ato contínuo quero que se ajoelhe.
Assim foi feito e pela primeira vez aquele homem mostrava o quanto sexualmente aquela fêmea havia o havia mobilizado. Tocando-se , ordenou que ela direcionasse seu rosto para ele e em um jorro banhou todo o rosto daquela mulher com sua seiva , essa que ela aceitou com o maior gosto.
– Muito obrigada, meu Senhor…. Muito obrigada.
Já reestabelecido ele ordenou que Laëtitia ficasse em pé e com um vibrador controlado por celular a penetrou amarrando-a de novo pelas mãos na cruz.
Qual não foi seu prazer em determinar o ponto de quase orgasmo e tortura-la negando o extremo prazer com que seria honrada por aquele dominador? Que tortura era quese chegar, estar com a plena vontade de desmanchar-se em sons,linquidos e vibrações e não poder fazê-lo.
– Não goze, sua puta. Será punida se o fizer.
– Sim , Senhor.
Ele sabia que não poderia levar aquele jogo tão longe como queria mas não tentar ampliar aquela tortura que conduzia próxima ao prazer absoluto.
Ela, da sua parte, gemia incontrolavelmente, totalmente possuída e torturada por aquela catarata de sensações que a levava, contraditoriamente, à querer e não querer que aquele momento que tanto ansiava.
Fato é que, chegado um momento, no auge de sua convulsão de sensações, ofegante e à ponto de não conseguir mais suportar, pediu:
– Senhor, por favor, permita que eu chegue ao orgasmo.. por favor.
Ele fingiu não entender
– Como, Laëtitia?
– Por favor, meu Senhor, deixe-me ter prazer, te imploro…
Ele diminuiu a vibração para o nível mínimo só para voltar ao nível máximo e repetir o processo por várias vezes, fazendo com que ela implorasse aos gritos.
Finalmente, a ordem que ela tão almejava:
– Goze, Laëtitia.
E assim foi, com os braços amarrados garantindo o sustento de seu corpo enquanto tudo mais se desvanecia em sensações, fluídos , gemidos e ruídos até acalmar-se e aí limpou o corpo dela, cuidou das marcas e a acolheu.
– Hoje você não voltará para casa, Laëtitia, ficará comigo.
– Sim, Senhor…
Quanto mais haveria no futuro? Como saber se tudo estava apenas começando.
(21/09/2001 – dedicado Laëtitia)